Friday, July 07, 2006

Olha mais uma dos STCP



Está provado que eu não posso andar de autocarro sem que aconteça uma peixeirada qualquer! A sério que não faço de propósito, mas parece que os escolho a dedo.
Ora este mês a minha mãe adoptou um novo sistema para me tirar de casa. Ofereceu-me um passe para quatro zonas do Porto. Assim agora não posso sequer refastelar-me no sofá que lá vem aquela voz dos confins: “Então? Tens de dar uso ao teu passe! Vai dar uma volta no metro até ali e acolá, se não para que te dei isso?” Não que eu já não a tivesse topado mal ela sugeriu a ideia, mas é facto conhecido que contra mães não há argumentos.
E lá fomos, praí há dois dias atrás, dar uma caminhada na foz, que o mar acalma as ideias. Até aqui tudo correu sobre rodas, mas na praia tass bem e o tempo foi andando. Já passava das 17h quando decidimos apanhar o 500 até S.Bento.
Eu: Xiii! Vem à pinha!
Não vinha, mas eu gosto sempre de dar um tom fatalista às situações. Arranjámos dois lugares de costas separados, ao que eu saquei do meu livro e há que cultivar a mente mesmo em andamento. Pouco antes de Massarelos, começou o teatro para o qual nem paguei a entrada:

Voz de mulher, sotaque-Ribeira: Sua ordinária! Sua vaca!
Voz de outra mulher, sotaque- Terra do Cagufe: Mas tenha lá calma que eu só…
Mulher Ribeira: És uma ordinária! Não te atrevas a olhar pós miúdos!

A troca de ideias continuava e como todos os outros passageiros eu achei por bem inteirar-me da situação. Olhei para trás e à beira do condutor (que já se sabe é onde se passa tudo) vi uma mulher nova de cabelo escuro com madeixas loiras preso num rabo-de-cavalo. Barafustava com alguém sentado no banco. Dois putos choravam como se não houvesse amanhã e a tripulação do 500 olhava para cena sem perceber muito bem qual era o stress. Não sei bem quanto tempo gastaram a trocar insultos, todos de nível altíssimo e grande qualidade, subentenda-se, mas não deve ter chegado a um minuto sequer. Como é típico, a coisa partiu para a porrada. Mas porrada da boa! Upa upa! Cabelos desgrenhados, arranhões, estaladões, outras coisas acabadas em ões e não sei se algumas dentadas. Luta de mulheres mesmo, da tradicional, que estávamos na zona histórica do Porto, agora quase a chegar a Mira-Gaia.
Aqui guardei o livro, não fosse ter de me defender também, enquanto as pessoas começaram a gritar: “Oh Sr. Motorista! Pare o autocarro! PARE O AUTOCARRO!” A coisa estava mesmo feia lá atrás, aliás, mesmo nas costas dele, mas o autocarro prosseguiu a marcha sem grandes mudanças de velocidade. Calculei que para o condutor, que faz aquele percurso, quiçá todos os dias, aquilo não eram apenas os ossos do ofício mas também o pão-nosso de cada dia. Não parou, não se importou, nem quis saber! Aqui, os passageiros revoltaram-se: “Ele tem de parar, mas que incompetente! Nestes casos ele tem de parar!” Fiquei mais sossegada, ao menos há sempre alguém que sabe o código deontológico dos condutores de transportes colectivos. Até que perceberam que o problema estava mesmo nas três mulheres à pancada (sim, que pelos vistos a Dona Maria Da Ribeira, tinha uma amiga que também vê a Buffy). E estiveram nisto até que alguém com tomates as separou. Que fique bem claro que eu nunca seria capaz de me meter entre elas! Sou muito mariquinhas para isso. Mas a Dona Antonieta Do Desculpe Lá teve de procurar abrigo na parte de trás do veículo, ora, onde eu estava, obviamente! Temi pela minha vida. Imaginei logo que a Dona Maria Da Ribeira ia galgar toda a gente para continuar o que ainda não parecia acabado, já que a Dona Antonieta Do Desculpe Lá só tinha o lábio aberto, um penteado radical, múltiplos arranhões nos antebraços e uns quantos pontos vermelhos que suponho que hoje estão bem negros. Mas não. A coisa desenvolveu-se em insultos sofisticados. Aprendi uns poucos palavrões jeitosos… Entretanto as crianças pararam de chorar e eu tentei formular uma hipótese que explicasse aquele descalabro. Parti do princípio que uma delas se queria sentar e estava uma criança a ocupar um lugar. (Que agora o autocarro já estava, efectivamente, à pinha) Daí comentários indirectos para que o pequerrucho cedesse o lugar aos mais velhos. Quem costuma andar de autocarro sabe que isto é mais que frequente. Depois calculei que a mãe da criancinha não tivesse achado piada à coisa. Mas… não foi nada disto que aconteceu. A Dona Antonieta Do Desculpe Lá estava agora a explicar a situação com lágrimas nos olhos e os nervos num frenesim de dia de S.João:

Dona Antonieta Do Desculpe Lá: Mas olhem quisto… Eu vou fazer queixa na polícia! Eu só pedi para os miúdos berrarem baixo… E a gaja passou-se! Mas olhem para isto… eu ‘tou a sangrar?
Dona Alzira do Ai Ao Que A Gente Está Sujeito: Está! Um bocadinho. Tem o lábio aberto. E olhe ‘tá arranhada…aqui.
Dona Antonieta Do Desculpe Lá: Pois! Olhem para isto! E eu só pedi para os miúdos berrarem baixo… e num segundo já tinha a gaja a bater-me! E depois já eram duas! – Pega no telemóvel – Eu vou ligar à polícia!Dona Alzira do Ai Ao Que A Gente Está Sujeito: Ligue, Ligue! Não saia do autocarro antes deles chegarem.
Dona Gertrudes Do Vídeo: E diga-lhe (a apontar para a câmara ao lado do retrovisor) que ‘ta tudo filmado!
Dona Alzira do Ai Ao Que A Gente Está Sujeito: Não limpe nada! Não limpe o sangue que isso depois são provas.
A Dona Antonieta Do Desculpe Lá finalmente entrou em contacto com a polícia e começou a explicar que estava sentada na sua paz a bordo do 500 enquanto as crianças atrás dela faziam um basqueiro tremendo. Aí ela pediu que elas berrassem mais baixo e apanhou uma valente sova da mãe dos putos que a continuava a ameaçar com uma esperinha mal saísse na sua paragem. Estava explicada a situação. E como se ela não fosse ridícula o suficiente aqui vem a piece de resistence da história.
É ponto assente que TODA a gente tem uma opinião sobre tudo. Agora o espantoso é que até nesta situação as opiniões se dividiram. Algures uma passageira praguejava que é impressionante aquilo a que estamos sujeitos, mesmo quando temos razão embora outra defendesse que se devia chamar a polícia e que o autocarro não devia arrancar enquanto esta não chegasse. Ao meu lado duas senhoras debatiam alegremente o sucedido:

D. Montanha: Ela só estava a proteger o que é dela. Também se mandassem calar os meus filhos onde é que ela já estava. Já tinha voado pela janela!
D. Até os Professores Apanham: E alguém consegue controlar as crianças? As crianças foram feitas para isso mesmo! Para se expandirem, brincarem e falarem alto.
D. Montanha: E para já quem berra são as cabras da montanha. As crianças não berram.
D. Até os Professores Apanham: Se nem os professores as controlam! Elas até nos professores batem!
D. Montanha: Fosse com os meus filhos…

Eu sorri. Um sorriso amarelo de quem não se quer meter mas deve ser isso, deve. O mundo está perdido era o que ocupava o meu cérebro naquela altura, mas se não os podes vencer, junta-te a eles.
Abri novamente o meu livrinho e ignorei os comentários das senhoras ao meu lado sobre as riquezas que eram os netos delas; os comentários de que estava tudo filmado e que o que é preciso é denunciarem estes casos; a senhora que limpava as lágrimas e acalmava os nervos; e os risos da jovem mãe que com sotaque Ribeirense (não façam confusão com as piadas Ribeirinhas) dizia ao filho que iam lanchar na esquadra enquanto intercalava com um “se quiseres vou contigo à esquadra, minha ordinária! E ainda comes por cima!”.
Como era previsível, a carreira chegou ao fim (Aliados) e polícia nem vê-la. Eu compreendo, agora para além da Maria, têm o Destak, o Metro, e ainda por cima tinha saído a Dica. È muito para ler de uma só vez! Não sei se a senhora apanhou porrada da boa ou não mas que lhe fizeram uma esperinha fizeram.
Agora… quanto a vocês não sei… mas a minha parte favorita é a das cabras da montanha!

Telefonemas castiços 2


Cá está! Mais uma pequena contribuição para a saga dos telefonemas no mínimo curiosos. Esta conversa foi muito curta mas bastante produtiva como irão reparar. Antes de prosseguir a leitura deste post devo alertá-la, cara criatura que sem nada de mais interessante para fazer veio aqui parar, que o que se segue é impróprio para pessoas anti-palavrões. Tenho dito.
Portanto, ligaram para o meu telemóvel, de um número que não estava na memória, eu atendi e a história reza assim:

Eu: ‘Toue?
Sr. do outro lado: Fodasse, oh Rita, que caralho!
Eu em nova tentativa, já que acordara só há coisa de 2 horas: Estou?
Sr. do outro lado: Estou, Rita! Pois estou! Estou fodido contigo, é o que eu estou! Então onde é que ‘tá o filho da puta do livro que tu disseste que me vendias? Hã? Hã? Tenho mais que fazer à puta da minha vida! Ou pensas que quê?
Eu em estado catatónico: uh…
Sr. do outro lado: Ai a merda… E não me venhas com desculpas que eu juro que te vou às trombas, Rita!
Eu, finalmente acordando pa vida: Desculpe lá mas eu não sou a Rita, não há aqui nenhuma Rita, nem tenho bem a certeza de que conheço alguma Rita. Parece-me a mim que marcou o número errado.
Sr. do outro lado (depois de uns segundos de silêncio): Aton num é do *********?
Eu aliviada: Não.
Sr. do outro lado: Realmente não tem a voz da Rita…
Eu, ainda mais aliviada: Pois, calculei que não.
Sr. do outro lado: Mas tem uma voz sexy…
Eu desliguei.


Castiçolas… Têm cá uma piada!

Que sentimento estúpido...


… é a saudade. Sentir a falta de coisas ou de alguém que não estão nem vão estar. Vontade louca e desmedida de chegar ao inatingível, de guardar aquela estrela que insiste em olhar por nós.
Dizia a outra, naquele programa da televisão: ”Ui! Dói de bom!” e digo eu num tom muito menos achungalhado, que de bom não tem nada, dói de doer mesmo. É um aperto no coração, uma falta de ar, um quase quase a perguntar “quem apagou as luzes?”, uma sensação que calculo semelhante ao início de uma angina de peito.
E sentir a falta de alguém sentado mesmo ao nosso lado? Sentir falta de um toque que nunca existiu sequer? E a falta de um abraço que há muito sabemos que só aquela pessoa nos poderá dar? É a parte sem tratamento da patologia do amar. Já vos aconteceu sentirem falta de tanta coisa que não conseguem arranjar espaço para sentir o presente? E sentirem tantas saudades de alguém que mesmo no meio de uma multidão, na realidade estão completamente sós?
Esta noite sinto-me assim. Tenho saudades tuas. Não sei se é porque não ligas, se é porque quero desesperadamente ligar-te embora quisesse nunca mais querer ligar-te. Confuso? Também eu! Habitua-te… ou pelo menos espero que te queiras habituar. Porque sentir saudades é isto. É estúpido, é sentirmo-nos tolos, é fazermos e dizermos coisas parvas, ou escrevê-las, como no meu caso. Onde andas? Que é que estás a fazer? E pensar que não queria pensar… muito menos em ti. Mas é só porque esta noite… tenho saudades tuas.

Eu tenho saudades do tempo em que não sabia que o que sentia eram, na realidade, saudades.

Monday, July 03, 2006

Morram as Melgas, Morram, Pim!



Há noites que dá uma, há noites que dá duas, há noites que dá três, horas da madrugada e eu sem conseguir dormir por causa da porra das melgas!
As melgas cheiram mal da boca.
É facto conhecido que eu tenho pavor de abelhas, não gosto daquele insecto, pronto! Mas gosto de mel, logo, como as abelhas são responsáveis pelo mel, eu entendo a razão da sua existência. As aranhas, outro exemplo, já não me fazem tanta impressão, contudo também não é bicho eu goste de ter por casa. No entanto, para além de apanharem moscas e trazer dinheiro (segundo dizem), a rapidez com que fazem as teias, entre outras coisas, é fascinante.
Agora as melgas... Para que é que serve as melgas? Para nada, digo-vos já! Se lhes encontrarem uma utilidade por favor partilhem essa informação.
‘Tá um gajo a dormir sossegado da vida e chega aquela hora crítica entre as 2h e as 5h a.m., quando começa a ouvir um zum zum infernal rente ao sistema auditivo ou mata-se de coçar com um prurido que não se suporta...e acorda! Cá está! Melga no quarto – presente! É pior que um pesadelo sobre a Segunda Guerra Mundial.. Lá acendemos a luz e gastamos horas preciosas de descanso à procura do maldito bicharoco. Não há condições... até porque chega uma altura em que a coisa se torna pessoal e temos mesmo que lhe causar uma morte o mais dolorosa possível. E aqui vem uma situação curiosa... É frequente termos duas melgas no quarto. Porque é que a primeira que apanhamos é sempre aquela que não tem sangue, ou seja, não nos ferrou?
Se elas nos acordassem a horas decentes, tipo a partir das 6h da manhã em que eu já consigo funcionar, até me levantava e ia fazer alguma coisa de útil à Humanidade. Agora antes disso é escusado...
Se as melgas são portuguesas eu quero ser espanhola!
Morram as melgas, morram, pim!