Monday, April 04, 2011

Dois meses numa livraria

Há gente a mais no mundo. Principalmente ao fim-de-semana.
Tenho para mim que antes de ser político, e enquanto tentava singrar como artista, Hitler trabalhou numa livraria e foi aí que o cérebro dele começou a avariar.
Tenho ondas esporádicas de instintos verdadeiramente homicidas quando estou a trabalhar, principalmente ao sábado. A sorte dos clientes é que eu peso menos de 50kg e meço pouco mais de metro e meio e, claro, há que ter noção das nossas limitações.

A propósito do Hitler, hoje um cliente queria trocar uma edição do Mein Kampf por outra específica, a que vamos chamar “Y”. Fui ao sistema e não tínhamos. Só por encomenda.

Cliente: E a edição do “X” (não me lembro agora que autor ele referiu)?
Eu: Pois esse autor não me aparece aqui.
Cliente: Posso ver?
(entra pelo balcão adentro e aponta para um dos resultados que me apareceu)
É provavelmente este. Tem?
Eu: Tenho de confirmar. Dê-me só um minuto.
Vou à estante, tiro livro, ponho livro, procuro… procuro…
***
E lá encontro. Volto ao balcão.
Eu: Está aqui. (enquanto lhe mostro o exemplar)
Cliente: Pois, exactamente. É essa!
Aguardo que ele pegue no livro. Ele continua a olhar para mim.
Cliente: Pois, mas eu não quero essa. Quero a outra, a do “Y”.
Eu: A que eu não tenho?
Cliente: Sim.
Eu: Então quer fazer a encomenda?
Cliente: Sim.
Eu: E não quer ver esta?
Cliente: Não. Essa já conheço.

Como eu disse, instintos homicidas.