Wednesday, June 22, 2011

No dia em que eu morrer

No dia em que eu morrer os meus amigos juntar-se-ão ao ar livre num campo verde, ao pé de um lago. Uns relembrar-se-ão do momento em que me conheceram e recordar-se-ão de como me odiaram e me acharam uma besta. Ocorrer-lhes-á então o meu primeiro acto que os levou de mudar opinião em relação a mim. Outros pensarão apenas em como instantaneamente os cativei. Continuarão a lembrar-se de como nos tornamos amigos. Vir-lhes-á à memória o que fizemos e deixamos de fazer um pelo outro. Prosseguirão a rir das nossas aventuras e das parvoíces mais idiotas que levei avante. Vão pensar nas aflições que ultrapassamos juntos e nas tristezas que superamos com o apoio um do outro. Contarão novamente as nossas histórias lendárias que foram passando de boca em boca ao longo dos anos. Falarão das peripécias mais embaraçosas e das façanhas mais inusitadas. Os jogos, os desafios, as conversas, as noites e os dias. Emergirão também os gestos mais bonitos e ternurentos assim como os momentos mais simples e comuns que faziam os nossos dias e que deixarão inevitavelmente de acontecer. E, pela primeira vez, sem saberem se por hábito ou por homenagem, vão todos começar a cantar canções com as palavras que acabaram de ser ditas, tal como eu tinha a mania de fazer. Vão sorrir, vão chorar, vão rir… vão recordar. E se ao início não sabiam como começar a minha despedida, agora vêem-se obrigados a dizer apenas adeus. 

Não haverá funeral, nem haverá missa. Não haverá vigília, nem procissão. Não haverá roupas pretas, nem cânticos pré-ensaiados. Não haverá espectáculo, nem audiência. 

No dia em que eu morrer, os meus amigos guardarão tudo o que tenho de bom. Saberão porque a nossa amizade nasceu, vingou e resistiu. 

No final levarão consigo a única recordação que importa: a saudade, aquela que carrega consigo todas as boas memórias de nós, aquela que se manifesta na dor da ausência.