“Uso de procedimentos que permitem proporcionar, sem sofrimento,a morte a um ser humano que a deseja – ou que se supõe desejá-la – tão doloroso é o seu estado”. Esta é a definição de eutanásia no Dicionário Médico.
A morte e aperda foram desde sempre assuntos controversos, acontecimentos que, embora inevitáveis, são difíceis de aceitar. No entanto, mais difícil ainda é, a meu ver, a doença. Esta é algo que muitas vezes reduz o ser humanoa pouco mais de uma presença. Tudo o que um dia nos caracterizou – as nossas experiências, a nossa independência nas acções mais básicas, a nossa capacidade de comunicar – podem passar a ser apenas uma lembrança na memória dos outros. Será errado proporcionar a morte a alguém que já não tem motivos para viver?
A moral natural é a base da condenação generalizada da eutanásia, condenação esta ampliada pela moral com fundamento religioso. Um homem matar outro homem homem, sejam quais forem as circunstâncias ou os motivos porque o faz, é um abuso em relação à ordem natural. Mas não teremos nós a liberdade para pôr fim à nossa própria vida? Para os católicos, a recusa da eutanásia é uma evidência: se foi Deus quem nos deu a vida, Ele é o único que no-la pode tirar. E, por isso, devemos suportar tudo, mesmo o insuportável até ao nosso último suspiro? Prefiro acreditar que não.
Quando as tentativas de aliviar a dor de um doente em fase terminal são ineficazes ou quando ele é evitado pelos outros, abandonado numa cama de hospital ou instituição social, é errado acabar com um sofrimento que parece não ter fim? Há quem defenda que a aceitação da eutanásia levaria à quebra da confiança que o doente tem no médico. Uma sociedade que despenaliza a eutanásia arrisca-se a provocar uma enorme insegurança nos cidadãos face à actividade das equipas da saúde. Eu, pessoalmente, temo ainda mais a distanásia, ou seja, o prolongamente irracional e inútil da vida; fazer mais, para além do que é necessário, quando não há viabilidade nehuma. É difícil deixar alguém partir, a morte é, às vezes, aceite com mais facilidade pelos próprios doentes do que pelos familiares…
A alternativa médiaca e social para os casos extremos é a medicina paliativa de alta qualidade, no domicílio ou em instituições de carácter residencial. Mas e os meios? E os recursos humanos? Quem vai cuidar de quem já não quer estar cá? Nem todo o doente em fase treminal tem uma família que o acolha de braços abertos e ainda menos são aqueles que têm os recursos monetários para usufruir dos cuidados paliativos.
A realidade é que há vidas que não são vidas e das duas uma: ou o Estado e as organizações de solidariedade investem nos cuidados paliativos para que estes estejam ao alcance de qualquer um ou permite-se que o direito à autonomia do doente seja levado ao extremo, já que ele foi privado de tantos outros pela doença. O que é inconcebível no século XXI é alguém sofrer mais do que se pode imaginar porque tem de esperar pela alta celestial.
A morte e aperda foram desde sempre assuntos controversos, acontecimentos que, embora inevitáveis, são difíceis de aceitar. No entanto, mais difícil ainda é, a meu ver, a doença. Esta é algo que muitas vezes reduz o ser humanoa pouco mais de uma presença. Tudo o que um dia nos caracterizou – as nossas experiências, a nossa independência nas acções mais básicas, a nossa capacidade de comunicar – podem passar a ser apenas uma lembrança na memória dos outros. Será errado proporcionar a morte a alguém que já não tem motivos para viver?
A moral natural é a base da condenação generalizada da eutanásia, condenação esta ampliada pela moral com fundamento religioso. Um homem matar outro homem homem, sejam quais forem as circunstâncias ou os motivos porque o faz, é um abuso em relação à ordem natural. Mas não teremos nós a liberdade para pôr fim à nossa própria vida? Para os católicos, a recusa da eutanásia é uma evidência: se foi Deus quem nos deu a vida, Ele é o único que no-la pode tirar. E, por isso, devemos suportar tudo, mesmo o insuportável até ao nosso último suspiro? Prefiro acreditar que não.
Quando as tentativas de aliviar a dor de um doente em fase terminal são ineficazes ou quando ele é evitado pelos outros, abandonado numa cama de hospital ou instituição social, é errado acabar com um sofrimento que parece não ter fim? Há quem defenda que a aceitação da eutanásia levaria à quebra da confiança que o doente tem no médico. Uma sociedade que despenaliza a eutanásia arrisca-se a provocar uma enorme insegurança nos cidadãos face à actividade das equipas da saúde. Eu, pessoalmente, temo ainda mais a distanásia, ou seja, o prolongamente irracional e inútil da vida; fazer mais, para além do que é necessário, quando não há viabilidade nehuma. É difícil deixar alguém partir, a morte é, às vezes, aceite com mais facilidade pelos próprios doentes do que pelos familiares…
A alternativa médiaca e social para os casos extremos é a medicina paliativa de alta qualidade, no domicílio ou em instituições de carácter residencial. Mas e os meios? E os recursos humanos? Quem vai cuidar de quem já não quer estar cá? Nem todo o doente em fase treminal tem uma família que o acolha de braços abertos e ainda menos são aqueles que têm os recursos monetários para usufruir dos cuidados paliativos.
A realidade é que há vidas que não são vidas e das duas uma: ou o Estado e as organizações de solidariedade investem nos cuidados paliativos para que estes estejam ao alcance de qualquer um ou permite-se que o direito à autonomia do doente seja levado ao extremo, já que ele foi privado de tantos outros pela doença. O que é inconcebível no século XXI é alguém sofrer mais do que se pode imaginar porque tem de esperar pela alta celestial.