“Uma para a cacha
O principal triunfo do telejornalismo é a mobilidade: estar com imagens (inacessíveis à rádio) às cavalitas do facto (inacessível ao jornal impresso). Ou seja, os primeiros a dar as últimas. Ora, salvo honrosas excepções (quase todas na SIC e quase nenhuma na TVI), o telejornal português, com o dinamismo de um coala, é o primeiro a estar nas últimas. Repetem “n” vezes, no dia seguinte, a mesmíssima peça gravada e emitida na véspera, sem actualizar uma vírgula do texto. Às dez da manhã, ainda a tirar a remela do olho, ouvimos como esta: “O ministro esteve hoje à noite no...” Em Portugal não existe o texto telejornalístico, que deve ser fluente e liso por causa da verbalização. As frases são proustianamente quilométricas, como se o objectivo fosse fazer o pivô deitar os bofes pela boca. Há três advérbios para cada verbo. O estilo é macarrónico e parnasiano, inspirado naquele me que a Maria Cachucha respondia às cartas do namorado. Dir-se-ia que metade dos pivôs quer ser romancista (a outra metade já é).
Mais subordinados à opinião pública e ao maniqueísmo do ‘pró ou contra’, os telejornais jogam à defesa. Cada segundo na TV vale milhões – mas os telejornais dão a sensação de que estão sempre a ‘encher o chouriço e a empurrar com a barriga’. São mais que as mães as peças que não entram (ou não saem) na hora certa, em que o som é infra-sónico e os planos mais redundantes que o verso de Gertrude Stein: ‘Uma rosa é uma rosa é uma rosa’. E os cortes são tão esquartejadores que parece haver uma moto-serra desgovernada na régie. Ah, uma dúvida: para se fazer um directo num telejornal, a condição «sine qua non» é que o repórter seja gago? No dia do assalto ao banco de Setúbal que degenerou em sequestro, José Alberto Carvalho teve de interrompor a lengalenga da colega no local e grunhir-lhe nas entrelinhas: ‘Que raio, afinal, aconteceu?’ A resposta implícita foi: ‘Passo’. Assim, apesar das trombetas na abertura e no encerramento, dos acrílicos e dos cromados e da mania da notícia-espectáculo, os telejornais com frequência lembram aqueles circos pindéricos, cuja tenda é mais fita-cola do que lona e cujo tigre já usa placa.
Anexa aos telejornais, a meteorologia, é verdade, continua a ser muito útil. Deus, por exemplo, no sétimo dia descansou – mas aí choveu a potes e Ele não pôde ir à praia. Contudo, e sem querer ser implicante (ninguém aprecia tanto uma crítica construtiva como quem a faz), eu sempre soube perfeitamente quando vai cair uma carga de água. Exactos cinco minutos depois de eu finalmente ter tido vergonha na cara e lavado o carro."
O principal triunfo do telejornalismo é a mobilidade: estar com imagens (inacessíveis à rádio) às cavalitas do facto (inacessível ao jornal impresso). Ou seja, os primeiros a dar as últimas. Ora, salvo honrosas excepções (quase todas na SIC e quase nenhuma na TVI), o telejornal português, com o dinamismo de um coala, é o primeiro a estar nas últimas. Repetem “n” vezes, no dia seguinte, a mesmíssima peça gravada e emitida na véspera, sem actualizar uma vírgula do texto. Às dez da manhã, ainda a tirar a remela do olho, ouvimos como esta: “O ministro esteve hoje à noite no...” Em Portugal não existe o texto telejornalístico, que deve ser fluente e liso por causa da verbalização. As frases são proustianamente quilométricas, como se o objectivo fosse fazer o pivô deitar os bofes pela boca. Há três advérbios para cada verbo. O estilo é macarrónico e parnasiano, inspirado naquele me que a Maria Cachucha respondia às cartas do namorado. Dir-se-ia que metade dos pivôs quer ser romancista (a outra metade já é).
Mais subordinados à opinião pública e ao maniqueísmo do ‘pró ou contra’, os telejornais jogam à defesa. Cada segundo na TV vale milhões – mas os telejornais dão a sensação de que estão sempre a ‘encher o chouriço e a empurrar com a barriga’. São mais que as mães as peças que não entram (ou não saem) na hora certa, em que o som é infra-sónico e os planos mais redundantes que o verso de Gertrude Stein: ‘Uma rosa é uma rosa é uma rosa’. E os cortes são tão esquartejadores que parece haver uma moto-serra desgovernada na régie. Ah, uma dúvida: para se fazer um directo num telejornal, a condição «sine qua non» é que o repórter seja gago? No dia do assalto ao banco de Setúbal que degenerou em sequestro, José Alberto Carvalho teve de interrompor a lengalenga da colega no local e grunhir-lhe nas entrelinhas: ‘Que raio, afinal, aconteceu?’ A resposta implícita foi: ‘Passo’. Assim, apesar das trombetas na abertura e no encerramento, dos acrílicos e dos cromados e da mania da notícia-espectáculo, os telejornais com frequência lembram aqueles circos pindéricos, cuja tenda é mais fita-cola do que lona e cujo tigre já usa placa.
Anexa aos telejornais, a meteorologia, é verdade, continua a ser muito útil. Deus, por exemplo, no sétimo dia descansou – mas aí choveu a potes e Ele não pôde ir à praia. Contudo, e sem querer ser implicante (ninguém aprecia tanto uma crítica construtiva como quem a faz), eu sempre soube perfeitamente quando vai cair uma carga de água. Exactos cinco minutos depois de eu finalmente ter tido vergonha na cara e lavado o carro."
Paulo Nogueira in Expresso (14-10-06
1 comment:
MUAHAHAHAHAHAHA!!!!!!!!!
my lobeeee! SAUDADS! meke tás? meke vai a vidinha?
por cá (Marrocos..lol) sobrevive-s...
tipo, este gajo é 1 génio. definitivament. "Dir-se-ia que metade dos pivôs quer ser romancista (a outra metade já é)." o gajo sabe da coisa! :P
ele vai ter 1 espetáculo klker dele cá em Lx... ond é k era... epa, ond este o Antes Eles K Nós ;)
anyway, espero k esteja td super ctg! e espero k nos vejamos em breeeeeve!
bjs d mim!********
a frô e o eterno abraço...
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