Parece que este ano a RTP "inovou" o processo de selecção. Toda a gente pôde concorrer com letra e melodia e, ao que consta, mais de 300 crentes enviaram a sua oportunidade. Desses 300 e num-sei-quê, alguém seleccionou 24. O passo seguinte foi permitir ao povinho escolher 12 dessas 24 composições através de voto electrónico.
Como eu estava a dizer, a Sílvia Alberto, que já teve mais jeito para a coisa, está agora a ganhar a vida a apresentar um programa que eu nem sei muito bem como hei-de insultar. Não a Sílvia. O programa.
Se me querem fazer acreditar que aquelas coisas, a que eu me recuso chamar de canções para não ofender as canções, eram as melhores de entre mais de trezentas, devem estar mais loucos que o Joaquim Phoenix!
Nucha? Nem sei se é com "x" se é com "ch" e estou-me tão nas tintas que nem vou perder 2 segundos a confirmar no Google. Ela estava com um vestido gótico num cenário medieval acompanhada de um tipo saído de "Os Vampiros de John Carpenter". Sim, que nada diz "português" como o Halloween, toda a gente sabe...
Romana? Com uma porcaria que não era fado nem era música, era barulho e berros. E come on... Romana?
Depois veio uma rapariguita de cor-de-rosa dizer 30 vezes que ia escrever um poema. Então vai lá escrever o poema e volta quando tiveres uma coisa de jeito para cantar!
E tudo fala de amor porque é a coisa mais portuguesa que existe, é tudo o que nós precisamos para viver e, pelos vistos, é o único tema jeitoso para dar letra a uma melodia.
Ai esperem... a Luciana Abreu está a falar sobre a paz, mas de vez em quando sai-lhe um "AHHHHHHHHHHHHH" a queixar-se das dores nas costas e fico "confuza". Também não sei muito bem se ela sabe que o Obama já ganhou e que já não é preciso andar a divulgar o "Yes We Can" dele. Alguém lhe devia dizer, a moça não é obrigada a ler jornais.
Esta merda é o melhor de entre mais de trezentas??? Uma ova que é!
Vivemos no país da gatunagem em que ser ladrão e desonesto é uma carreira reconhecida e aplaudida.
Conheço o nome de mais de metade dos 12 escolhidos, isto é descobrir talentos que é uma coisinha parva. Gente que começa agora a concorrer com Floribelas e Nuchas, Romanas, Nunos Nortes... Realmente faz todo o sentido, não haja dúvidas.
Antigamente ficávamos num honroso último lugar com canções que continuariam a ser cantadas por muitos e muitos anos. Agora ficamos num vergonhoso último lugar porque nem nós votaríamos na canção do nosso país.
E o que queremos fazer é esquecer a letra sem pés nem cabeça que acompanhou aquela melodia que faz lembrar outra que já ouvimos mas não sabemos bem aonde.
O problema não é só presistirmos num Festival que se rege por leis e acordos políticos em vez de avaliar a arte e o talento, é também não sabermos, dentro da nossa própria casa, procurar o talento onde ele realmente existe.