Este “post” é dedicado ao meu sobrinho Miguel porque há pouco finalizei a leitura do blog dele, o que me deixou com um misto de orgulho e tristeza. Um orgulho enorme porque ele é meu sobrinho, apesar de ter sido um feliz acaso, pois nem ele nem eu tivemos nada a ver com isso directamente. E uma tristeza irritada pelas nossas bolhas Actimel. Aquelas que não nos deixam oferecer tudo o que somos aos outros, aquelas que nos protegem de coisas que nunca nos iriam magoar. Que nos fazem perder grandes momentos que poderíamos ter partilhado ao entrar na vida dos outros.
E por isso tenho uma tristeza leve, levezinha, vá! Porque não te conheço como gostava Miguel. Nem a ti nem a tanta outra gente que faz parte da minha vida mas em quantidades subtis.
Este poema é para ti, já que aprendeste a gostar de poesia. É do Nandinho, um senhor carrancudo mas genial. Por ser o meu poema favorito de todos os que por mim já passaram...
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos
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(O blogger é levado da breca... Vejam lá vós que eu que até já tinha este post há uns tempos tive de o reeditar numa data que até não me dava jeito nenhum porque aqui o chefe entendeu que me devia mandar isto para o beleléu! Está a gozar comigo com certeza... mau mau maria!)